Desafios do setor industrial amapaense e a atuação do SENAI/SESI Amapá.

O Estado do Amapá enfrenta um significativo desafio produtivo: elevar a participação dos setores econômicos para promover o desenvolvimento estadual. Apesar da forte dependência do setor público e da grande participação do comércio, que são os pilares da economia amapaense, há uma notável fragilidade em dois setores estratégicos: a agropecuária e a indústria. É importante destacar que ambos os setores, por meio de suas relações sinérgicas, possuem elevado potencial de transformação social e econômica, pois fomentam a geração de empregos, a inovação tecnológica, a melhoria na distribuição de renda e ainda reduzem a dependência externa, favorecendo o equilíbrio na balança comercial e nas contas públicas.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2021, a participação conjunta da indústria e do setor agropecuário no Produto Interno Bruto do Estado do Amapá não ultrapassou 15%, sendo 12,78% a participação da indústria e apenas 1,87% do setor agropecuário. De 2011 a 2021, a indústria alcançou seu melhor desempenho em 2013, com pouco mais de 13%. No mesmo período, o setor primário atingiu sua máxima participação em 2012, com 2,67%.

Para compreender as dificuldades enfrentadas pelo setor industrial, o Observatório da Indústria do Amapá realizou uma análise em maio de 2025, com visitas técnicas e entrevistas em empresas industriais dos municípios de Macapá e Santana, abrangendo segmentos como construção civil, indústria da transformação, têxtil, madeireira e química. Dentre as empresas analisadas, 55% são de pequeno porte, e o conjunto total observado apresenta uma trajetória consolidada, com 45% atuando no mercado há mais de 10 anos. Esses dados evidenciam um ambiente empresarial experiente, mas que ainda enfrenta limitações em escala, logística e inovação.

Entre os principais entraves observados, 45% das empresas apontaram questões logísticas e cadeias de suprimentos como o principal responsável por problemas operacionais. A manufatura enxuta ou eficiência produtiva ocupou a segunda posição, com 27%. Automação e digitalização de processos foram mencionadas por 18% das empresas, enquanto obstáculos relacionados à energia e sustentabilidade somaram 9%.

No que tange às dificuldades na cadeia de suprimentos, o custo com insumos e os atrasos na entrega foram os principais problemas, citados por 33% das empresas cada um. A dependência de fornecedores externos foi mencionada por 17% dos entrevistados. Outros desafios, como a qualidade dos materiais e as variações cambiais, totalizaram 18% das queixas.

Entre os desafios relacionados à mão de obra, 91% das empresas indicaram dificuldades para contratar profissionais qualificados, especialmente para funções técnicas. As demais, 9%, relataram problemas com capacitação e desenvolvimento de equipes. Quando questionadas sobre a estratégia para capacitação em novas tecnologias, 82% afirmaram possuir programas internos de capacitação, enquanto 18% não têm uma estratégia definida para o desenvolvimento de pessoal.

A baixa intensidade de investimentos em Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I) representa outro desafio. Cerca de 64% das empresas destinam menos de 1% do faturamento anual a essas áreas. Outras 27% investem entre 1% e 5%, e apenas 9% aplicam mais de 10%.


Apesar desses desafios, o cenário para o Amapá é promissor, impulsionado principalmente pelo Programa Startup Indústria, iniciativa desenvolvida pelo Hub de Inovação do SENAI/SESI Amapá. Esta iniciativa articula os desafios identificados com o potencial criativo de startups tecnológicas, atuando como engrenagens complementares para acelerar a modernização da base produtiva estadual. O Hub oferece infraestrutura, rede de institutos nacionais e inteligência de dados; o Programa Startup Indústria conecta esses ativos às necessidades concretas das fábricas amapaenses, financiando provas de conceito e transformando ideias em negócios de alto valor agregado.

Essa combinação promete elevar o Amapá a uma nova categoria de desenvolvimento socioeconômico, servindo como modelo para outros estados da região amazônica. A integração estratégica de bioeconomia, exploração energética, diversificação industrial e inovação tecnológica posiciona o estado como protagonista do desenvolvimento sustentável amazônico. O sucesso dessa trajetória dependerá da continuidade das políticas públicas e da manutenção do foco na inovação como motor do desenvolvimento sustentável.

Ao conectar dados estratégicos, articulação institucional e inovação aberta, a iniciativa reafirma o papel do SENAI/SESI Amapá como catalisadores da transformação produtiva, valorizando a escuta qualificada e a mobilização de atores locais como elementos essenciais para a construção de um novo ciclo de desenvolvimento.

Por
Murilo Camelo

Revisado por
Jane Palmerim e Antonio Marcos